OS CONTRABANDISTAS

19/10/21

TELECOMUNICADOR MODELO BURELA



Engenheiro Héctor Canto colabora com os Faladoiros de Vigo
 

Xoel Iglesias 


Héctor Canto no Castro de Tronha, em Ponteareias


Héctor Canto (Canárias; 1985) é Engenheiro em Telecomunicações pela Universidade de Vigo. Como profissional exerceu na última década e meia em diversas companhias do âmbito das start-ups e scale-ups em vários setores incluindo formação em linha, vídeo, alimentação, Smart Cities e cibersegurança; e mais recentemente vídeo na indústria automobilística. 

Especializou-se no lado do Backend da Engenharia de Software, com especial foco na arquitetura de Software na "nuvem". Como divulgador e formador, participou em repetidas ocasiões nos encontros da Associação Python Barcelona e na convenção anual PyConEs da Python Espanha. Há uns meses, incorporou-se como professor de Desenho de Sistemas de Software na associação La Compiladora. Nós conversamos com ele a respeito do seu perfil linguístico, do Modelo Burela e dos Faladoiros de Vigo



Qual é o seu perfil linguístico da infância e a mocidade ? Neofalante ou paleofalante?

Sou paleofalante. Embora tenha nascido na emigração (nas Ilhas Canárias), em casa aprendi galego como primeira língua. Os meus avós eram todos labregos, residentes na comarca da Terra Chã, com formação básica, salvo um que não sabia ler. Os meus pais -ele camareiro e ela enfermeira- também se criaram naquela área, mas meu pai marcharia para Madrid e depois -já casados- foram ambos para Tenerife. Ali passaram 6 anos e nasci eu. Quando cumpri os 3, retornamos: para Cangas de Foz, primeiro; e para Burela, definitivamente. Só um ano depois, nasceu o meu irmão. Suponho que a criação do Hospital de Burela (por volta de 1987) teve uma influência importante ao conseguir a minha mãe emprego nele.

Em que momento abraçou o estudo da Língua portuguesa?

Estudei português padrão a partir dos 16 anos. Não recordo bem se em quarto de ESO ou em primeiro de Bacharelato. Foi um pouco ao tomar consciência política, numa época em que houve várias mudanças legislativas na educação como foram a LOU e a LOE e muita atividade em oposição à guerra do Iraque, onde Espanha participava ativamente. A partir daí, um reflexiona também acerca da situação política mais próxima, polo que aprender português fazia sentido para conhecer melhor a língua própria.

Nesta altura da sua vida, em quantas línguas se desenvolve com fluência?

Desenvolvo-me normalmente em três idiomas: galego-português, espanhol e inglês, e posso entender com limitações catalão, italiano e francês.

O Engenheiro Canto Veiga é um exemplo ideal do cosmopolitismo Modelo Burela. Qual é a sua opinião a respeito desta iniciativa?

Acho muito interessante pôr em valor a aprendizagem da língua própria, e demonstrar que isso não é limitante para aprender outras; é a via para aprender melhor as segundas e terceiras línguas. No caso concreto de Burela, manter o natural -a imersão linguística em galego- abre portas para aprender a norma internacional do galego e mais idiomas românicos como o francês ou o italiano, e exercita a mente para aprender qualquer outra, tipicamente o inglês. Aliás, ajudar os novos burelãos a entrar no galego é a maneira perfeita de os acolher e de compartilharmos a cultura da nossa vila.

Colabora com alguma entidade social que promova o nosso idioma?


Sim, colaboro com a associação Faladoiros, que promove encontros presenciais ou virtuais para possibilitar que qualquer um tenha um espaço onde poder expressar-se em galego.

Os Faladoiros foi uma iniciativa de ativistas e professores da cidade de Vigo e a sua área geográfica. Algumas dessas pessoas são velhas conhecidas e não tardaram em contactar comigo quando a ideia já estava madura. Chegaram à conclusão de que uma das deficiências mais evidentes nas grandes cidades era que quem queria viver em galego -quer como iniciantes, quer como falantes habituais- não tinha um espaço onde o praticar. Nasceu assim esta iniciativa de apoio a galego-falantes de todo tipo.

Esses Faladoiros surgiram antes da pandemia. Como se adaptaram após março de 2020?

No formato inicial eram encontros presenciais. Para controlarmos a pandemia, migraram para o virtual e isso alargou a área de alcance e a tipologia de público interessado. Aos grupos anteriores acrescentamos: galegos e galegas da diáspora -de primeira, segunda e terceira gerações- que conheciam o nosso idioma; estudantes não galegos na etapa universitária (em período de Erasmus, doutorandos e estudantes de línguas romances).

Imaginamos que a contribuição de Héctor Canto esteve relacionada com a disponibilização de ferramentas tecnológicas.

Sim. Eu participei especialmente na parte virtual, ajudando a utilizar a tecnologia: propus a plataforma que usamos, elaborei um guia e ajudei nos primeiros passos dos anfitriões de cada sessão. Além disso, participo numa sessão cada quinze dias (normalmente temos duas sessões semanais e pensamos em aumentar a três ou quatro, dada a afluência). Gostamos de ter grupos pequenos, mais participativos.


O nosso entrevistado num Faladoiro Virtual com gente de Bruxelas, São Paulo, Vigo e Argentina.


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