Nascido em Santiago de Compostela (1977), Miguel Arce estudou a Licenciatura em Filologia Galega e a seguir a de Filologia Portuguesa; e frequentou também três Mestrados: um na Universidade de Santiago, outro na Universidade Nova de Lisboa e o de Professorado de Ensino Secundário no Campus de Lugo da USC.
Após ministrar aulas (desde 2002) nas formações de adultos de língua galega organizadas pela Junta da Galiza, trabalhou brevemente na dinamização linguística municipal e agora é docente de Língua e Literatura e também de Ciências Sociais no IES Bergidum Flavium de Cacabelos.
Como é habitual nesta série de colaborações, queremos começar a entrevista com uma contextualização social da pessoa entrevistada. Onde estão as tuas origens e qual é o perfil linguístico da tua infância e da adolescência?
A família de meu pai era da Matança (em Íria Flávia) e a da mãe de Lestrove. Por uma parte e pela outra eram galego-falantes. Como já era habitual naquela altura, devido à pressão social da cidade à que emigraram (Santiago), ambos fizeram tentativa de manter o relacionamento com os filhos em castelhano. Contudo, no final da adolescência -estando no Instituto Rosalia de Castro- mudei para a língua galega.
Quando experimentaste as variações entre os sotaques da Galiza e de Portugal… e quando conheceste a norma escrita internacional?
Inicialmente, conheci a variação entre os sotaques nas viagens a Portugal (ao Norte e ao Centro do país) e fiz as primeiras leituras. Mais tarde estudei Filologia Portuguesa e, para além disso, intensifiquei as viagens ao Sul. Já na vida adulta, trabalhei e morei durante 4 anos em Portugal.
Após o primeiro Mestrado em Filologia Galega, fizeste um segundo, neste caso o de Estudos Portugueses na Universidade Nova de Lisboa. Como foi a experiência?
Os Estudos Portugueses estavam dentro dum Mestrado da Universidade Nova. Eu escolhi as disciplinas de literatura. Gostei muito de conhecer o romanceiro tradicional, a poesia portuguesa das vanguardas e contemporânea, mas fiquei desiludido com as literaturas africanas, pois em vez de trabalhar com os autores atuais, só explicaram a literatura dos Descobrimentos. Para além dos Estudos Portugueses, aproveitei a ocasião para estudar catalão no Instituto de Línguas daquela mesma universidade.
Uma experiência bem diferente foi a de formar pessoas adultas…
Foi uma experiência muito positiva. Ajudas a romper preconceitos, melhoras a sua competência escrita e oral em galego, e ajuda-los a progredir profissionalmente ou a integrar-se na sociedade galega quando é o caso de imigrantes. Gostei também de introduzir elementos da cultura e da literatura galega nas aulas. Tentávamos oferecer a chave para entrar num mundo novo.
Quando trabalhaste em equipas de dinamização municipais?
Foi durante um período curto. Trabalhei só três meses no Serviço de Normalização Linguística de Foz no ano 2012. Ainda está na rede o blogue intitulado Foz Língua Viva, que recolhia uma análise sobre a presença do nosso idioma na vila e no conjunto das paróquias daquele concelho da Marinha.
Desde dez anos atrás es professor no Berço. Por que centros passaste?
Dou aulas no Berço desde setembro de 2012, e já lecionei nos liceus Virgen de la Encina de Ponferrada, no IES Bergidum Flavium de Cacabelos e na Escola Oficial de Idiomas de Ponferrada, onde lecionei galego e num breve período também português.
Qual é a oferta educativa que se ministra no nosso idioma nestes centros educativos? Só língua ou língua e literatura?
De 1º a 4º da ESO, estudam a disciplina de Geografia e História em Língua galega. E em 4º de ESO e 1º e 2º de Bacharelato leciona-se uma disciplina de Língua e Cultura Galega, com conteúdos linguísticos, culturais e literários.
Em que curso começam e qual é a dedicação horária semanal?
Começam já na etapa do Ensino Primário com a disciplina de Plástica ministrada em galego. Em 4º a matéria de língua tem duas horas, em 1º Bacharelato três e em 2º quatro horas semanais.
Qual é o perfil do alunado?
São estudantes bercianos de famílias galego-falantes, estudantes com parte da família na Galiza e estudantes bercianos sem contato com o galego mas que veem na aprendizagem do galego uma saída profissional para trabalharem na Galiza.
Como é o balanço a respeito destes 10 anos de ensino na comarca berciana?
É uma sensação agridoce: por um lado escutar o galego falado no exterior e por outro ver que, por causa de ter-se perdido a transmissão intergeracional, a situação da nossa língua no Berço é crítica. Contudo, embora se trabalhe numa situação de permanente precariedade, é muito positivo contribuir a manter aberta esta porta de progresso educativo.
Ligações
https://fozlinguaviva.wordpress.com/
https://www.youtube.com/watch?v=yB_32tbLr2U&t=26s
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