Ana Laíns, a Diva do Fado, leva
a transversalidade da música portuguesa às festas de Viveiro
Na Grécia é chamada de “Diva de
um Fado Diferente”. Na França é a “Virtuosa do Palco” e em Portugal a “Cantora
Colorida”. Com 25 anos de percurso profissional, Ana Laíns (Tomar; 1979) chega à
Marinha para oferecer concerto nas Festas Maiores de Viveiro. Segundo Carlos
Timiraos, diretor da Banda do Landro, a encarregada de orquestrar o espetáculo,
desde o mês de maio estão a trabalhar conjuntamente e agora tudo está preparado
para reunir no palco um total de 60 músicos da Galiza e Portugal. Através das
redes sociais, a própria artista também faz promoção deste encontro musical: “no próximo dia 11 de agosto volto à Galiza do
meu coração. Eu e os meus músicos iremos juntar-nos à magnífica Banda “O
LANDRO” para o anual concerto nas festividades do município de Viveiro. Estamos
a preparar um concerto lindo e irrepetível. Será uma honra”. A cita será na Praça Maior de Viveiro, em
presença da estátua de Pastor Díaz, às 22:00 horas desta próxima sexta-feira. A
entrada é livre.
Com motivo da passagem da artista
por Viveiro, o programa Grandes Vozes do Nosso Mundo preparou uma entrevista
radiofónica, cujo conteúdo reproduzimos para a nossa audiência. Na conversa
fala-se dos vínculos musicais entre a Galiza e Portugal, das numerosas colaborações
da Ana Laíns com as bandas filarmónicas galegas, do Tour de 2023 e ainda do
repertório que a cantora vai interpretar durante o concerto. Já no início está
a explicação dessa referência “à Galiza do coração”.
Com motivo da passagem da artista
por Viveiro, o programa Grandes Vozes do Nosso Mundo preparou uma entrevista
radiofónica, cujo conteúdo reproduzimos para a nossa audiência. Na conversa
fala-se dos vínculos musicais entre a Galiza e Portugal, das numerosas colaborações
da Ana Laíns com as bandas filarmónicas galegas, do Tour de 2023 e ainda do
repertório que a cantora vai interpretar durante o concerto. Já no início está
a explicação dessa referência “à Galiza do coração”.
-Quais são os seus vínculos
com a Galiza?
Parto do princípio de que todos
os portugueses que eu conheço sentem pela Galiza a mesma afeição que eu sinto.
Não é à-toa que se referem à Galiza e a Portugal como povos irmãos. As nossas
culturas continuam muito próximas; a nossa língua -proveniente do galaico-português-
continua a ter muito a ver com a galega; as nossas tradições musicais
-especialmente as de mais ao norte, que eu tento praticar o mais possível-
continuam a ter muito entroncamento com as tradições galegas. A Galiza é uma
das regiões onde eu mais cantei na minha vida. O público galego é muito amoroso,
muito parecido com o português.
-Onde e com quem cantou?
Olha, já cantei na Corunha duas
vezes. Já cantei em Ponte Vedra, em Ourense, em Vigo...
-Suficiente! Já tem cantado quase
por toda a Galiza. Só estava o norte à espera.
Exatamente. Estava o norte do
norte mesmo à espera deste concerto. É muito especial porque eu tenho uma relação
de proximidade muito grande com as formações filarmónicas. Eu acho que as
formações filarmónicas na Galiza -mas fundamentalmente em Portugal- têm uma
percentagem de responsabilidade muito grande na aprendizagem de música e na
aproximação dos jovens à música. Tão músico é quem escuta como quem toca. Nós
precisamos de criar bons músicos, mas também bons públicos. As bandas filarmónicas
com músicos profissionais e também amadores têm uma importância na construção
de públicos que sabem escutar música. A Galiza tem uma excelente tradição nas
músicas filarmónicas.
-Dizia que virá com os seus
músicos juntar-se à Banda do Landro. Quem são esses músicos?
Para tornar este projeto possível,
não poderíamos levar a banda toda. Somos muitos. Faz sentido levar a guitarra
portuguesa porque é um elemento de identidade. Vai ser o Bruno Claveiro, um jovem
talento que hoje em dia toca com os melhores nomes da música portuguesa. Vou
levar no piano o Paulo Loureiro, o meu produtor musical, a pessoa que melhor me
conhece; ele é o meu chão: o arranjador de uma parte das músicas que vamos
ouvir. Vou levar também o nosso baterista-percussionista, porque os instrumentos
tradicionais portugueses -há imensos instrumentos de percussão típicos portugueses-
são parte importante da minha música, nomeadamente em tudo o que diz respeito
às Beiras (Beira Alta, Beira Baixa, Trás-os-Montes e Minho). Achei que faria
sentido levar também o baterista para que nós pudéssemos fazer um cruzamento
entre o fado e o folk, a música tradicional portuguesa, que tem muito a ver com
a música galega. Vou tocar o adufe, que é o vosso pandeiro.
-Nós também temos adufe. Repare
nas Adufeiras de Salitre...
Pois têm. Exatamente.
-Como surgiu a oportunidade
deste concerto com a Banda do Landro?
Este concerto é um bom exemplo do
que tem sido a construção da minha carreira. Não sou uma cantora que navegue
pelo rio principal; estou sempre um bocadinho à margem, pelos afluentes. Não
sou uma cantora que faça muita TV, que faça muita imprensa. Normalmente as
coisas acontecem na minha vida “em teia”: num concerto conheço alguém que depois
fala de mim e esse alguém depois convida-me para outro concerto... E este
concerto é também dos que surgiram assim. Surgiu por intervenção do Javier Fajardo,
que foi Maestro de uma das bandas com quem eu cantei perto da Corunha há alguns
anos. Até onde eu percebi, o Carlos Timiraos (Maestro da Banda do Landro)
conhece muito bem o Javier e foi este quem lhe falou de mim. Por indicação dele,
a Banda do Landro decidiu dedicar este ano o concerto das festividades ao fado
e à música portuguesa.
-Eu estava a pensar que o de
Viveiro seria o primeiro concerto destas características na colaboração com
bandas da Galiza.
Não, não. Aliás, ainda sem contrastar
dados numéricos, eu atrevo-me a afirmar que mais de 70% dos concertos que eu
fiz na Galiza até hoje foi sempre com formações filarmónicas.
-Isso não aparece nas suas
biografias. Fica claro que após esta entrevista aquele pormenor terá de ser
incluído na visão panorámica.
Rssss. É uma grande falha, é
verdade.
-Será a primeira vez que
visita por motivo profissional este norte da Galiza. Será também uma descoberta
pessoal?
Será também uma descoberta pessoal.
O mais longe que fui para o norte foi à Corunha. Sempre em trabalho; nunca em
lazer. Esta vai ser a primeira vez que visite a Marinha. Eu já estive a
pesquisar e percebi que se trata de uma zona turística muito rica, onde as
pessoas gostam de ir à praia e onde o verão é muito intenso. Nós tivemos imensas
dificuldades em marcar um hotel para a nossa estadia. Vai ser ótimo porque vou
estar noutra parte da Galiza que não conhecia e que vou passar a conhecer.
-Será difícil de esquecer o TOUR2023,
com passagem pela Roménia e a Lituánia, pela Galiza e por Cabo Verde...
Vou celebrar 25 anos de carreira
em 2024. Mais da metade dos 500 concertos que eu fiz desenvolveram-se em palcos
internacionais. Como acontece com todos os géneros musicais etnográficos, que
representam a identidade de um país, a música portuguesa tem muita facilidade
para ser exportada. Nestes vinte e cinco anos já cantei em mais de trinta
países. Sinto-me um pouco como a Vasco da Gama da música portuguesa. Tive a
oportunidade de apresentar um lado da música portuguesa que o público não conhecia.
Portugal é muito relacionado com o fado, apenas o fado, e nós somos um país com
muita diversidade musical. O ter conseguido mostrar ao mundo essa heterogeneidade
da música portuguesa é uma das medalhas que eu carrego ao peito.
-Como se apresenta o concerto
de Viveiro. Qual será o repertório?
Nós vamos fazer uma vasta homenagem
à Amália Rodrigues, até porque grande parte dos arranjos que eu cantei com as
bandas filarmónicas galegas foram baseadas no repertório amaliano. Vamos passar
pelo Foi Deus, pelo Senhor Vinho, a Rua do Capelão, enfim, alguns dos temas
mais populares. Vamos também visitar o Zeca Afonso (a nossa Dulce Pontes
costuma dizer que o pai dela é o Zeca e que a Amália é a mãe. De certa forma,
eu assino por baixo: todo cantor português tem estas duas grandes influências)
e também teremos tempo para o meu próprio repertório (os Quatro caminhos, A
verdade da mentira) e para prestar homenagem à Dulce Pontes, a minha grande
mentora, a grande inspiração da minha carreira -foi por ela por quem comecei a
cantar profissionalmente-. Finalmente, vou tentar recolher algo das etnografias
das Beiras e Trás-os-Montes (A mi morena, Senhora do Almortão, Cantiga
bailada). A ideia é fazer uma viagem à transversalidade; não cantar só fado.
Espero que as pessoas gostem dessa nossa abordagem.
-Como trabalharam com o Carlos
Timiraos? Como fizeram a preparação deste concerto?
Trabalhamos por vídeo e por
telefone. O meu marido, Paulo Loureiro, fez o 50% dos arranjos para adaptar as
músicas da Banda do Landro. Delineamos tudo em reuniões via Zoon. Só na véspera
faremos um ensaio presencial para colar as duas bandas. Depois chegará o
momento de fazer aquilo de que mais gostamos: cantar e partilhar música.
ENTRADA PARA A ENTREVISTA DO GRANDES VOZES