Noemy Cardoso dos Reis Borges
Ramom Reimunde Noreña (São Martinho de Mondonhedo - Foz, 1949) é colaborador habitual da imprensa galega e também da editada na Galiza. Os seus temas habituais estão relacionados com o meio ambiente, as pescas e o ordenamento florestal, mas sem esquecer a sua paixão pela língua e a literatura. Começou publicando livros destinados à docência -entre eles o Trevom, de Armando Cotarelo; a Poesia Completa de Leiras Pulpeiro e o Cautivério de Fingoi, sobre Carvalho Calero-, reuniu um conjunto de artigos de jornal sob o provocador título de Com textículos e abriu o caminho da auto ficção com A Costeira (2005), sobre a pesca do bonito em Burela e Foz, um caminho que consolidou com o romance O Tesouro do Monte (2014). Entre risos, diz que atualmente escreve umas memórias não publicáveis em vida.
A que sim é publicável é a conversa que mantivemos com este membro da Associaçom Galega da Língua e da Academia Galega da Língua Portuguesa.
Começamos por falar do seu perfil linguístico...
O meu perfil linguístico da infância é de bilingüe entre o espanhol da mãe e o galego dos vizinhos. Acho que sou paleo falante de aldeia.
Com certeza, esta definição tão rápida pode ser comentada mais em pormenor. Após a infância, chegou a mocidade...
Com efeito! Na escola rural de Ensino Primário em Ferreira Velha -São Martinho de Mondonhedo -no concelho de Foz- falávamos galego entre os meninos, mas a mestra falava espanhol e as crianças tínhamos que tentar falá-lo. A mim não me custava muito porque a nossa mãe era madrilena e na casa falavam-nos castelhano, mesmo as tias maiores. Havia rapazes que falavam um espanhol irreconhecível ( "Señorita Loliña me batió con un carabullo!" "Se dice palo, Lolita"). Portanto, até os dez anos era bilíngue. Passada essa idade, fui interno a um colégio de Gijón, onde se falava espanhol com sotaque asturiano. Durante sete anos de Bacharelato -dois de engenharia em Oviedo e outros dois de engenharia em Madrid- falei fundamentalmente espanhol. Só nas férias na Galiza voltava a falar galego com os vizinhos. Finalmente retornei à Corunha para estudar Náutica, e ali sim que escutava falar galego, mesmo comecei a ler literatura galega e algo se transformou em mim, de forma que quando fui navegar -e sobretudo quando cheguei a Santiago para estudar Filologia nos invernos-, comecei a falar galego. Mesmo assim, no andar dos estudantes em que morávamos os irmãos seguia a falar castelhano. Retornamos, pois, ao bilingüismo. Uns anos mais tarde, sendo já professor de Galego nos Liceus, comecei a usar pessoal e socialmente o galego, mesmo a pensar em galego, e assim continuei toda a vida até hoje. Praticamente não falo quase nunca noutras línguas, nem escrevo, o qual desde há mais de trinta anos me voltou a transformar em monolíngue.
Em resumo…
Em resumo: do bilingüismo inicial infantil -como paleo falante rural- passei por uma etapa de monolingüismo em castelhano na mocidade e finalmente na idade madura cheguei ao monolingüismo em galego, no que penso morrer quando toque. De velhos, gaiteiros!
Com que idade teve consciência de que conhecia a língua portuguesa desde a infância?
Abracei o estudo da língua portuguesa em 1977 na Faculdade de Filologia da Universidade de Santiago de Compostela. Foi em quarto de carreira, porém antes já simpatizava e lia e escutava a rádio em português. Ao vê-lo escrito, comprovei que era a mesma língua que a nossa, como uma revelação espontânea de algo tão evidente. Foi a partir de 1982 quando empreguei uma ortografia reintegrada na escrita e nas aulas, sendo sobre o ano 2000 quando decidi escrever em português o galego da Galiza, embora -por “imperativo legal”- em certos artigos e exames teve que seguir empregando a normativa oficial ILG-RAG para que me publicassem os artigos e livros.
Dizia antes que é monolíngue social, mas não é por carecer de formação linguística ou por não conhecer outros idiomas.
Nesta altura da vida não escrevo em espanhol, embora o conheça, claro! (risos), porque li muito e sou licenciado em Filologia Hispánica. Escrevo sempre em português da Galiza -salvo em casos pontuais- e posso ler sem dificuldade em francês, inglês e italiano, o que é pouco frequente, só por razões profissionais.
Já que falamos da profissão, quando começou a sua experiência?
Como professor de Língua e Literatura -a nossa- comecei a vida profissional em 1979. Há uma etapa de marinho, oficial da mercante, entre 1973 e 1979, em que escrevi muito pouco, talvez cartas e artigos. Nesse tempo pratiquei línguas estrangeiras por necessidade. Também escrevia poemas e textos em galego que não se publicaram. Ao mesmo tempo que navegava para ganhar a vida e ver mundo, estudava em Compostela nos invernos e lá também algo escrevia.
Finalizados os estudos universitários passou a escrever muito mais...
Depois de 1980, em Lugo, comecei a escrever e publicar artigos no jornal e livros de comentários sobre língua e literatura. Andando o tempo, após o ano 2000, escrevi também sobre temas marítimos e florestais, por exemplo as Atas de Promagal e das associações e centenas de artigos. Até o ponto de que como escritor só me conhecem na Marinha, e não muito. Disso tenho a culpa eu mesmo por descuido e falta de qualidades, e talvez o código ortográfico em que escrevo, que me limita, porque os temas sociais, marítimos e florestais são interessantes para a gente de aqui, não sei se para os brasileiros e portugueses que me entenderão.
Esses temas interessam em toda a parte...
Desde que estou aposentado do ensino não escrevo sobre língua ou literatura. Esse era o tema principal naqueles anos de ensinante quando publiquei nos jornais artigos destinados ao público que não assistia às minhas aulas. Pretendia divulgar autores e obras e era crítico com a situação do galego. Fazia proselitismo e pátria. Felizmente, na Marinha não temos dúvida com isso de momento. Há o sintoma positivo de que a juventude emprega o galego nesta Costa Norte
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