Despedida de Manolo Mseda do IES de Baio, onde estivo acompañado por várias pessoas da Marinha |
Manolo Maseda (Burela, 1975) diz que aprendeu “a tocar o acordeão por genética”, porque foi seu pai quem o enveredou para a República Musical. Com estudos de solfejo, piano e canto no Conservatório de Santiago de Compostela, diplomou-se em Educação Musical na USC e em Salamanca titulou-se em História e Ciências da Música. Durante oito intensos anos teve a responsabilidade de coordenar o funcionamento da equipa diretiva do IES Maximino Romero de Lema (Baio, Zas) e no momento presente é docente de Música no IES do Milhadoiro.
Este artista da Marinha foi cofundador de Serra-lhe aí!!!, de Fiandola e de Taghaitaí; e também experimentou uma interessante etapa compositiva e interpretativa nos Diplomáticos de Montealto como vocalista, acordeonista e saxofonista. Com Guadi Galego, Sés, Lamatumbá e O Sonoro Maxín, entre outros grupos e bandas, colaborou como compositor e instrumentista; e com Séchu Sende trabalha na Regueifesta, a iniciativa que levou a improvisação oral em verso às aulas do sistema educativo público. Precisamente, com motivo de se tornar pública outra intervenção pedagógica em que participa, “Ao Son da nosa música”, conversamos com ele para o PGL.
-Aquilo de que “aprendeu a música por genética” merece um comentário maior e é por isso que abrimos a conversa com esta explicação. Como foi o tal processo?
É uma brincadeira. Simplesmente queria transmitir que foi meu pai quem me ensinou a gostar da música e do seu processo criativo. A música é uma arte, como outra qualquer, que precisa de formação. Eu acredito nas capacidades das pessoas para aprenderem e desenvolverem habilidades e fazerem medrar a sua criatividade e talento. A genética pode ajudar nalguns casos a ter um ouvido mais atento ou uma psicomotricidade fina mais desenvolvida, mas isso não quer dizer que seja impossível alcançar essas habilidades com a prática. No meu caso em particular, comecei a compreender a linguagem abstrata da música e a paixão pelo acordeão como consequência direta da motivação dentro do núcleo familiar.
-Após essa primeira fase de motivação e ensino familiar, como entrou nos estudos sistemáticos? Na passagem da casa para a escola marcou uma continuidade ou no momento de a música ser mais uma obriga académica chegou a desmotivação?
Naquela altura, o conservatório mais próximo estava na Corunha ou Compostela. Em Burela existia uma escola de música, de titularidade privada, e a ela assistíamos muitas crianças de diversas idades. Naquelas aulas preparavam-nos para nos examinarmos por livre no conservatório (em matéria de linguagem musical, como também de piano ou canto coral). Comecei com os exames quando tinha 9 anos. A lembrança da experiência no conservatório não é muito gratificante.
Contudo, nunca tive desmotivação. Cada vez sentia uma maior paixão pela música. Aliás, naquela altura criou-se a “Banda de Música da Marinha” e muita gente jovem de Burela começámos a tocar nela e aprendemos códigos musicais menos introspetivos. Foi o momento de iniciar-me no saxofone e gostei muito de tocar em grupo.
-Durante a sua primeira etapa universitária combinou os estudos de Magistério com a formação no Conservatório de Santiago. Eram aprendizagens complementares?
Em Magistério eu estudei uma especialidade nova, a exclusivamente musical. Naquela etapa formativa, para além de estudar pedagogia e algumas matérias centrais do próprio Magistério, aprofundámos muito no canto coral, na instrumentação Orff e nas pedagogias musicais europeias (Kodaly, Dalcroze, Willems…). Como também outros colegas, tive a sorte de entrar no “Orfeão Terra a Nossa” e poder fazer giras musicais com propostas tão interessantes como os “Carmina Burana” de Carl Orff.
A formação musical de Magistério acontecia principalmente fora das aulas. Várias pessoas que estávamos na mesma turma combinávamos para tocar frequentemente “foliadas” e “sessões de improvisação''. Entre outras pessoas, participavam Guadi Galego, Lolinha de Ribeira (Fiandola, Serra-lhe aí!!!, Diplomáticos de Monte-Alto) ou Ico (Lamatumbá e Sonoro Maxín). Entre nós nasceram uns vínculos musicais e de amizade incríveis.
-Era um triângulo interessante: a Faculdade, as foliadas e o Conservatório!
Sim. Durante aquela etapa continuei paralelamente os estudos de piano no Conservatório de Santiago para complementar a minha formação. Até cursei matérias de livre eleição na faculdade de História. Havia transversalidade: quanta mais informação e mais diversa, muito melhor.
-Agora é o momento de lembrar a experiência nos Diplomáticos. Foi boa… ou foi ainda melhor?
Foi excelente. Aprendi muito. Antes disso, já tinha experiência em bandas como Fiândola ou Serra-lhe aí!!! -que bebiam de fontes tradicionais- e com elas vivi momentos felizes. No caso dos Diplomáticos, entrei no mundo do rock desde uma perspetiva criativa sem complexos. A primeira colaboração está em “Capetón”, concretamente num tema em que cantava Manolo Rivas. Depois chegou o desafio de somar-me ao grupo para fazer o CD “Komunikando”. Um período intenso, de muito trabalho, mas muito criativo e gratificante. Foi incrível poder realizar uma gravação com o escritor Manuel Maria, ou misturar a cultura cabo-verdiana com a galega da mão das Batuko Tabanka. Contudo, da experiência com os Diplomáticos ressaltaria os concertos ao vivo e as boas amizades que germinaram e que continuam bem vivas.
-Durante quase dez anos dirigiu a equipa educativa do IES Maximino Romero de Lema, em Baio. Quais foram os principais logros dessa gestão?
Acho que o logro mais importante não foi dirigir, mas criar entre todas as pessoas uma comunidade educativa aberta e participativa, que tornou a escola num lugar de encontro e aprendizagem. Conseguimos criar um contentor cultural, eco-feminista e galeguista. Tomou fortaleza o orgulho de pertencer a um meio rural privilegiado.
-A aposta foi bem entendida pelas famílias, que aproveitaram a oportunidade…
Foi um imenso prazer trabalhar em Baio. O alunado e as famílias incorporaram-se desde o primeiro dia para criar esse espaço educativo que todas e todos desejávamos. A comunidade educativa também acreditou e assim foi possível realizar programas como “Ao som delas”, “Ao som do rural”, “Ao som da natureza”, “Ao som do muralismo”, a “Regueifesta”… Em resumo: era o espaço amável, que contou com a implicação de toda a comunidade educativa.
-Agora está no IES Milladoiro, na periferia de Compostela. É um ambiente bastante diferente do Baio. A mudança é grande.
É uma situação socioeducativa muito diferente. Um centro com muita matrícula (mais de seiscentas pessoas matriculadas) e com turmas muito numerosas mesmo em período de pandemia. Evidentemente, a situação de crise sanitária que estamos a viver não permite ver a realidade do centro com claridade. É uma escola nova, com 9 anos de trajetória, que nasceu precisamente pela quantidade de população que se está a instalar no Milhadoiro nestes últimos decénios.
-Este é o segundo curso no novo destino…
É, sim. Na verdade, estou feliz de trabalhar com uma equipa docente implicada na dinamização da nossa língua e que trabalha dia a dia por melhorar o convívio.
-Em certa medida, o Milhadoiro não é tão diferente a Burela. Há muita diversidade cultural.
Muitíssima. Temos alunado de muitas nacionalidades diferentes. É um interessante ponto de partida para aprendermos das diferentes culturas. Na minha opinião, a marca diferenciadora do nosso centro é o trabalho transversal no caminho da interculturalidade.
-No Milhadoiro também consegue fazer equipa de regueifa?
Neste curso já temos um grupo de jovens trabalhando a improvisação durante o tempo de recreio. Abrimos um pouco a proposta ao “estilo livre” para dar entrada ao rap. Somos conscientes de que a realidade mais urbana está -a priori- mais distante da regueifa tradicional, Como a diferença não é grande, combinamos os estilos de improvisação para tecer pontes de comunicação entre os dois estilos.
-Neste curso será possível recuperar a Regueifesta?
Temos programado participar no início do mês de abril no encontro Regueibertso, em Euskal Herria. Nas escolas vasca e catalã também se ensina a improvisar. É uma forma de aprender brincando.
-Encerramos este entrevista “Ao Son da Nosa Música”...
É uma boa maneira de fazer o encerramento! “Ao Son da Nosa Música” é um projeto socioeducativo pensado para difundir de forma colaborativa o que se ensina nos centros escolares a respeito da música em galego. Levamos anos observando a grande quantidade de produção musical de qualidade que gera o país, mas também constatamos que a nossa mocidade desconhece a maioria destas propostas artísticas.
-São necessários pontos de encontro entre artistas e jovens adolescentes.
Assim mesmamente! As redes sociais estão cheias de informação, mas muitas vezes é complexo fazê-la chegar à comunidade educativa. Por isso, em breve vão estar disponíveis unidades didáticas em formato de Aula Virtual livre para que todo o professorado as possa empregar à vontade.
-O sucesso das Tanxugueiras pode ajudar…
É claro que pode! Neste último mês aconteceu algo maravilhoso. A participação das Tanxugueiras no caminho para a Eurovisão abriu um debate que também queremos recolher neste projeto. A música é uma ferramenta imprescindível para a transmissão da nossa cultura à mocidade.
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